segunda-feira, 27 de abril de 2009

MP3 e a indústria fonográfica

Já há alguns anos existe um terror psicológico sobre baixar músicas gratuitamente, principalmente através de programas peer-to-peer. O pioneiro Napster também foi pioneiro em ser condenado. Hoje existem os torrents, onde não só MP3 são trocados, como filmes, seriados, programas de TV, livros, fotos, jogos e programas. Está aí pra quem quiser. Mas há um crime nisso?
Diz que é crime de pirataria a troca de arquivos que viola a lei de direitos autorais, porque a cada música (ou filme) trocada gratuitamente pela internet o intérprete da mesma deixa de ganhar dinheiro. Mas isso não é novidade pra ninguém. Onde estava esse terrorismo com quem copiava LPs em fitas cassetes nos anos 80 e 90? O que diferencia a pessoa que compra um CD hoje, o copia para o formato MP3 e o distribui entre amigos, e a pessoa que comprava um LP e o copiava numa fita cassete para amigos? Essa troca gratuita de música foi - e é - muito importante para a própria música.
No começo dos anos 80, em São Francisco, o então jovem dinamarquês Lars Ulrich trocava fitas cassetes de bandas européias até então desconhecidas nos Estados Unidos. Lars, de alguma maneira, ajudou bandas européias de NWOBHM (New Wave Of British Heavy Metal) a terem público nos Estados Unidos por causa das fitas cassetes que ele trocava com amigos europeus via correio. Não só isso. Mas por causa das fitas cassetes vindas da Europa, jovens americanos foram influenciados pelo estilo e criaram um novo estilo local, o Thrash Metal. Graças às fitas cassetes trocadas por pessoas como Lars Ulrich, bandas como Exodus, Slayer, Testament, D.R.I., Suicidal Tendencies, Vio-Lence e a banda de Lars, o METALLICA, surgiram nos anos 80 nos Estados Unidos criando uma nova vertente dentro do Heavy Metal e marcando para sempre a história da música ocidental. A banda de Lars, o Metallica, é hoje considerada a maior banda de Metal do planeta. Seu disco de maior venda, o auto-entitulado de 1991 - conhecido como Black Album - já vendeu cerca de 22 milhões de cópias no mundo, sendo 15 milhões só nos Estados Unidos. É o segundo disco de Rock mais vendido no mundo. E tudo começou no começo dos anos 80 trocando fitas cassete com amigos pelo correio.
Com o mp3 a coisa não é diferente. Por causa do mp3 e da facilidade de troca de arquivos, bandas de novos estilos conseguiram certo destaque dentro de seu nicho. Por exemplo as bandas de Post-Rock. O Post-Rock é muito disseminado na internet, muitas bandas do estilo utilizam da internet para divulgarem seu trabalho e a troca de arquivos entre fãs do estilo ajuda na divulgação das bandas. Eu sou uma prova viva disso. Conheci muitas bandas do estilo pela internet. Possuo em minha coleção CDs de bandas como God is an Astronaut, Godspeed You! Black Emperor, HRSTA e Do Make Say Think, todas as quais conheci através da internet.
O Lamb of God, Giant Squid, Mastodon, Agoraphobic Nosebleed, Japanische Kampfhörspiele, devem agradecer à internet porque foi através dela que as conheci. E sim, eu tenho discos de todas essas bandas na minha prateleira.
Mas e quem só baixa mp3 e não compra discos? Bem, nos anos 80 também havia quem só vivia de fitas cassetes copiadas de LPs de amigos e ninguém dizia que as fitas cassetes estavam matando a música.
Já nos anos 90, com a popularização do CD, as coisas ficaram mais fáceis e práticas para o consumidor. Mas havia um problema: Pagar por um CD completo para ouvir somente uma música. Muitas vezes a pessoa comprava um CD de uma banda por causa de uma música que ouviu no rádio mas descobriu em casa que todo o resto do CD era uma porcaria. Era dinheiro jogado fora.
Agora não há mais esse problema. Com o advento do mp3 e do gravador de CD, qualquer pessoa pode fazer seu próprio CD com suas músicas favoritas de uma banda ou de várias bandas. E isso é um crime?
Andrew Keen, em seu livro "Culto do Amador", diz que para cada download legal de música, outros 40 são feitos ilegalmente. Isso quer dizer que, se a loja virtual do iTunes vende 20 milhões de downloads por dia, outros 800 milhões de downloads são feitos ilegalmente. Há uma tentativa das grandes gravadoras em tentar conter a pirataria utilizando-se do DRM (Digital Rights Management) que são "cadeados" inseridos nas músicas fornecidas legalmente pela internet para que a pessoa que a compra não possa copia-la e dividi-la gratuitamente com outras pessoas. Mas Steve Jobs, CEO da Apple e criador do iPOD e do iTunes, é contrário ao DRM. Por que? Num levantamento do próprio, Steve concluiu que a grande maioria de músicas trocadas ilegalmente pela internet é proveniente de um CD físico (que é isento de DRMs). Ou seja, para que haja a troca gratuita de música online alguém teve que comprar o CD. Não é o mesmo raciocínio da cópia de LPs em fitas cassetes nos anos 80? Alguém tinha que comprar o LP para poder copia-lo em fita cassete. Dinheiro era gasto naquela época, como hoje também o é.
A diferença fundamental entre hoje e ontem é que ontem cada pessoa tinha que fazer sua fita cassete por vez, hoje milhões podem copiar ao mesmo tempo um disco fornecido por uma pessoa só e copiar vários discos ao mesmo tempo. A disseminação é mais rápida, mas o raciocínio é o mesmo.
A loja virtual do iTunes é hoje a maior loja de música do mundo. Com mais de 20 milhões de downloads de músicas por dia, e mais de 10 milhões de downloads de filmes, o iTunes rendeu em 2006 mais de 1 bilhão de dólares vendendo músicas a 99 centavos de dólar. Então como fazer para que a venda de CDs pare de cair a cada ano? Fundamentalmente deve haver um barateamento nos CDs. Enquanto um CD é vendido nos Estados Unidos por 16 dólares, no Brasil um CD é vendido por 30, 35 reais. E isso um CD de um artista nacional. Pessoas como eu, que colecionam discos de bandas mais desconhecidas no país e que não possuem seus discos lançados no Brasil, pagamos preços estratosféricos pelos discos. Eu digo que vale à pena. Sou um entusiasta do CD e do LP. Adoro comprar CDs e LPs, ler os encartes, ver a arte das capas, etc... Mas reconheço que faço parte de uma minoria e acho que o futuro do CD estará fadado a nós colecionadores. E uma forma de incentivar a compra de CDs é fazendo versões especiais, como o Metallica fez com seu disco mais recente Death Magnetic, com a versão em vinil de luxo e a versão Coffin.
Se depender de mim o CD e o LP não morrem, mas eu não quero deixar de conhecer bandas novas através da internet e da troca de mp3.

Então, comofas//

2 comentários:

Eu.com.baunilha disse...

Isso poderia estar em uma revista. Ótimo texto, e muito verdadeiro.

Cecilia disse...

Oi, Kpetão. Tudo bem? Sou a Cecília, da Edelman, agência de comunicação da Jorge Zahar Editor, que lançou o Culto do Amador aqui no país. No livro, como você citou, Andrew Keen conta como a pirataria digital está fechando a porta de lojas importantes e antes gigantescas como a Tower Records 9(nos EUA)e os prejuízos causados a gravadoras, artistas e detentores dos direitos autorais por conta dela. é crime justamente porque quem faz o download se apropria de algo indevidamente...Se quiser ler mais sobre o livro, dá uma olhada: http://www.zahar.com.br/catalogo_detalhe.asp?id=1262
Acho que vai te interessar.
Abraços