Escrevia.
Registrava sua vida.
Sem parar.
Era tudo o que fazia.
Desde o dia que nasceu.
Nascera pra isso.
Pra contar ao mundo como veio.
E como foi.
Teu destino, talvez.
Sua aptidão.
Seu talento.
Digitava.
Não cansava.
Antes, quando pequeno
Não escrevia, falava.
E contava sua vida.
A vida como ela é.
Sua vida como ela é.
Não como deveria ser.
Nem nunca contou o que gostaria de fazer.
Contava o que fazia, o que sentia, o que era.
Quando aprendeu a escrever, começou a digitar.
Primeiro numa velha máquina de escrever.
Via o papel descer e subir
E as letras preenchendo seus espaços
Cada letra, cada batida, cada espaço
A cada teclada sua vida diminuía.
E veio o computador. E o Word.
E digitava. Cada letra brilhando no monitor
Era um pouco da sua vida indo embora
Pra nunca mais voltar.
Escrevia um livro que não podia ser corrigido.
Seus erros não poderiam ser corrigidos.
E então deu erro.
O teclado pifou.
A tinta acabou.
O monitor queimou.
O HD apagou.
E toda sua vida sumiu.
E ele apertava a barra de espaço.
Sua vida. Branca. Como o espaço no Word.
Vazia. Com uma linha preta piscando do lado.
Piscava na pulsação de seu coração.
Ditava seu organismo.
Ele digitava no ritmo da vida.
Da sua vida.
Sua vida que sumiu.
Pensou em começar de novo.
Mas para começar de novo
Tinha que nascer de novo.
Pensou em se matar, então.
Mas só se vive uma vez
E essa foi sua única chance
De ser alguém.
terça-feira, 2 de outubro de 2007
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